33 milhões de pessoas não têm o que comer e mais da metade do povo sofre com insegurança alimentar

09/06/2022 (Atualizado em 09/06/2022 | 11:50)

Foto: Reprodução
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Em pouco mais de um ano, o número de pessoas que não tem o que comer no país aumentou em quase 50%, alcançando 33,1 milhões de brasileiros. Segundo o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, lançado nesta quarta-feira (8), a fome no Brasil voltou a patamares registrados pela última vez na década de 90.

Para o presidente do PSB RS, Mário Bruck, é inadmissível que os brasileiros estejam passando fome. "Nosso país tem muitas riquezas. Como pode a população não ter a certeza do que irá comer na próxima refeição?", refletiu. Bruck, que tem como uma de suas bandeiras a agricultura urbana, ressalta que os brasileiros têm o poder da mudança em suas mãos. "As eleições estão chegando, não dá para o Brasil continuar do jeito que está. As pessoas não podem esquecer tudo o que passaram ao longo desses últimos quatro anos".

O desmonte das políticas públicas no governo do presidente Jair Bolsonaro, em conjunto com o agravamento da crise econômica , o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia contribuíram para a piora do quadro. No ano passado, o número de brasileiros que não tinham o que comer era de 19 milhões. Em 2018, eram 10 milhões.

A falta de acesso regular à água para beber e cozinhar, a chamada insegurança hídrica, também é um problema para 12% da população brasileira.

O estudo aponta 14 milhões de brasileiros a mais em insegurança alimentar grave em 2022, na comparação com 2020. A nova edição da pesquisa mostra ainda que mais da metade da população brasileira (58,7%) convive com algum grau de insegurança alimentar (leve, moderado ou grave).

“As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante do cenário de alta inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulneráveis”, explica o coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), instituição responsável pela pesquisa, Renato Maluf.

O estudo mostra também que a fome atinge o país de maneira desigual. Em média, 15% dos brasileiros estão abaixo da linha da pobreza. O percentual, entretanto, chega a 25% e 21% no Norte e no Nordeste. A situação também é pior entre os negros e as mulheres. Nos lares comandados por pessoas pretas e pardas há restrição alimentar em 65% das casas. Comparando os dados com a primeira pesquisa, a fome saltou de 10,4% para 18,1% dos lares comandados por pretos ou pardos.

Lares chefiados por homens também se diferenciam muito dos chefiados por mulheres. Nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares em que os homens são os responsáveis, o salto foi de 7,0% para 11,9%. Segundo os pesquisadores, isso ocorre por conta da desigualdade salarial entre os gêneros.

Outro dado preocupante levantado pelo estudo é que, em pouco mais de um ano, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos de idade – passando de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022. Na presença de três ou mais pessoas com até 18 anos de idade no grupo familiar, a fome atinge 25,7% dos lares. Já nos domicílios apenas com moradores adultos, a segurança alimentar chegou a 47,4%, número maior do que a média nacional.

Em 67% das famílias com renda superior a um salário mínimo por pessoa o acesso a alimentos é pleno e garantido. Ainda assim, 33% das famílias enfrentam algum grau de insegurança alimentar. A fome é maior nas casas em que a pessoa responsável está desempregada (36,1%), trabalha na agricultura familiar (22,4%) ou tem emprego informal (21,1).

Cerca de metade das famílias que deixaram de comprar arroz, feijão, vegetais e frutas nos últimos três meses, convivem com insegurança alimentar moderada ou grave. Entre as famílias que deixaram de comprar carne nos três meses anteriores à pesquisa, 70,4% estavam passando fome. Dados semelhantes foram encontrados nos lares onde os moradores não haviam comprado frutas (64%) e vegetais (63,6%).

Já a segurança alimentar é maior nos lares em que o chefe da família trabalha com carteira assinada (53,8%) e entre os que têm mais de oito anos de estudo (50,6%).

A pesquisa é realizada pela Rede Penssan, com execução em campo do Instituto Vox Populi, Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Oxfam, entre outras instituições. Os dados foram coletados entre novembro de 2021 e abril de 2022, por meio de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios distribuídos pelos 26 estados e o Distrito Federal. A pesquisa usa a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), a mesma usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Reverter essa situação é um desafio muito grande”, constata Rosana Salles, professora do Instituto de Nutrição Josué de Castro, da UFRJ e pesquisadora da Rede Penssan. “Vai depender da reestruturação das políticas de governo, das políticas de combate à fome e à miséria, da valorização do salário mínimo, do controle dos preços da cesta básica. Além, é claro, da reestruturação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea)”.


Fonte: PSB nacional - Com informações do PSB RS