As mulheres podem decidir as eleições no Brasil

31/05/2022 (Atualizado em 31/05/2022 | 13:20)

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Em todas as faixas etárias as mulheres são maioria. Têm preferências eleitorais bastante distintas das dos homens na disputa presidencial de outubro. E compõem a maior proporção de eleitores indecisos. Esses três fatores somados mostram porque elas podem ser o grupo com maior poder de decisão nas eleições de outubro.

Em reportagem publicada na BBC News Brasil, especialistas avaliam que as eleitoras que ainda não decidiram o voto devem ser o principal foco das campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Para a cientista política e professora da University College London, no Reino Unido, Malu Gatto, os três elementos somados potencializam a importância da participação feminina nas eleições brasileiras deste ano. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam que apesar de formarem a maioria dos eleitores há algum tempo, este ano é a primeira vez que as mulheres são maioria em todos os grupos etários.

Inclusive entre os eleitores na faixa dos 16 anos. De acordo com o TSE, as mulheres são 56% dos eleitores nessa faixa. Enquanto os homens são 42%. Esse número, para Gatto revela um engajamento maior, uma vez que o voto só é obrigatório a partir dos 18 anos.

Há 20 anos, a população total de eleitoras era 2 pontos percentuais maior que os homens. Hoje essa diferença é de 6 pontos percentuais. Elas são 53% dos eleitores e eles 47%. Outro ponto de grande relevância é que as mulheres estão em maior número entre os segmentos considerados chaves nas eleições de 2022. Elas são quase 60% os evangélicos no Brasil.

A pesquisa Genial/Quaest, divulgada em maio, mostra que 33% das evangélicas votam em Bolsonaro, enquanto 31% preferem Lula. O segundo ponto de relevância é o fato de as mulheres apresentarem preferência política muito diferente da dos homens na escolha quanto ao candidato à presidência.

A cientista política Nara Pavão, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), essa diferença acentuada na preferência eleitoral se revelou a partir das eleições de 2018, quando Jair Bolsonaro se candidatou pela primeira vez à Presidência.

No pleito deste ano, as pesquisas têm apontado uma diferença de 11 a 18 pontos percentuais entre homens em mulheres. Na Genial /Quaest de maio, por exemplo, 50% das eleitoras declararam voto em Lula, enquanto entre os homens o apoio é de 42%. Por outro lado, 50% das eleitoras avaliaram negativamente o governo Bolsonaro, enquanto entre os homens apenas 41% tem esse percepção.

Entre as justificativas para que as mulheres tenham uma percepção negativa do atual governo está a gestão deste na área da saúde. “Saúde é um tema caro às mulheres, porque boa parte das tarefas de cuidado — e isso está associado a estereótipos de gênero e à forma como somos socializadas — recai sobre elas. E a pauta da saúde não teve centralidade no governo Bolsonaro”, diz Nara Pavão.

Outro ponto importante destacado pela cientista política é a economia. Para uma parcela importante das mulheres não agrada a ideia de um Estado que interfira pouco na área e defenda a privatização. “Não é que as mulheres não se preocupem com a economia. Elas se preocupam. Mas elas pensam a economia não em termos de desenvolvimento econômico. Elas pensam em termos de políticas sociais”, diz a professora.

Defensoras da democracia

Segundo Nara Pavão, as mulheres também tem um maior apreço à democracia, de acordo com as pesquisas de opinião. “As mulheres são muito mais democráticas do que os homens e estão menos dispostas a abrir mão da democracia. Isso se dá porque mulheres, em geral, respeitam mais regras e normas, até porque elas são punidas socialmente num grau muito maior que os homens se desviam das regras”, diz a professora.

Para a especialista, o comportamento de Bolsonaro de atacar as instituições, questionar o sistema eleitoral e comprar briga com o Judiciário é Legislativo não é bem visto entre as mulheres. “Pensando que o governo Bolsonaro tem flertado com atitudes antidemocráticas, isso pode, sim, ser um ponto de alienação das mulheres”, diz.

Indecisas na mira dos presidenciáveis

De acordo com as pesquisas eleitorais recentes, Lula tem de 44% a 46% das intenções de voto no primeiro turno. Enquanto Bolsonaro fica entre 29% e 32%. Porém, quando há o recorte de gênero, as mulheres se torna decisivas. De acordo com a Genial/Quaest de maio, 12% das eleitoras ainda não se decidiram. Entre os homens, esse percentual é de 7%.


Fonte: Socialismo Criativo