Educação saqueada: novos indícios de corrupção no governo Bolsonaro

07/04/2022 (Atualizado em 07/04/2022 | 17:27)

Diretores compraram carros que custam 30 vezes seus salários logo após assumirem os cargos. Foto Divulgação/FNDE
Diretores compraram carros que custam 30 vezes seus salários logo após assumirem os cargos. Foto Divulgação/FNDE


Como comprar um carro, mesmo financiado, com prestações que comprometem 99,97% do salário? Os diretores do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) Garigham Amarante e Gabriel Vilar conseguem. O órgão está envolto em denúncias de intermediação de verbas para municípios com cobrança de propina por pastores com a benção de Jair Bolsonaro (PL) e no superfaturamento para a compra de ônibus escolares em mais de R$ 700 milhões, conforme revelado pelo Estadão. A licitação foi embargada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Os dois assumiram os cargos no FNDE por indicação do centrão, em 2021. Os veículos foram adquiridos por eles pouco tempo depois da licitação embargada.

E, conforme nova reportagem do Estadão, os veículos utilitários esportivos tem valor de mercado de R$ 330 mil e R$ 250 mil respectivamente. O que causou espanto nos funcionários do órgão, já que ambos recebem salários de pouco mais de R$ 10 mil.

Amarante foi um dos responsáveis por liberar o pregão superfaturado. Ele foi indicado ao cargo de diretor de Ações Educacionais do FNDE (Dirae) pelo presidente do PL de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto e já foi chefe de gabinete da Liderança da legenda na Câmara.

Vilar é diretor de Gestão, Articulação e Projetos Educacionais (Digap) do FNDE e, apadrinhado pelo Republicanos, já trabalhava no Ministério da Educação.

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Amarante comprou um SUV Mercedes-Benz GLB 200 Progressive, avaliado em R$ 330 mil.

O veículo comprado por Amarante, em agosto do ano passado, é um SUV Mercedes-Benz GLB 200 Progressive. De acordo com a estimativa do simulador de prestações online do fabricante, utilizado pela reportagem, as prestações mensais giram em torno de R$ 10,2 mil. Sem contar o IPVA, que ultrapassa R$ 9,7 mil por ano.

Vilar adquiriu Volkswagen Tiguan Allspace R-Line 2021, em julho do ano passado. O IPVA do carro é de quase R$ 8 mil ao ano.

Procurados pelo jornal, alegaram que os carros foram comprados utilizando para a entrada carros que já possuem. No entanto, não informaram quais carros seriam nem quiseram apresentar documentos que comprovem as justificativas. Também não foram encontrados registros de outros veículos anteriores nos CPFs dos dois diretores.

“Comprei do mesmo jeito que toda a população brasileira compra um bem de alto valor: financiado junto ao banco”, afirmou Amarante ao Estadão.

Bolsolão do MEC

Segundo documentos obtidos pelo jornal Estadão, o governo Bolsonaro abriu um processo de licitação para pagar R$ 480 mil por ônibus escolar destinado ao transporte de estudantes em áreas rurais. Técnicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no entanto, apontaram que cada veículo deveria custar no máximo R$ 270 mil.

Ao todo, o MEC pretende adquirir 3.850 ônibus, que pelo valor estabelecido no processo de licitação custariam R$ 2,082 bilhões. Esse valor representa R$ 769 milhões a mais do que o custo real dos veículos – uma diferença de 54%.

“A discrepância das cotações apresentadas pelos fornecedores em relação ao preço homologado do último pregão, do ano passado, implica em aumento não justificado do preço, sem correspondente vinculação com as projeções econômicas do cenário atual”, diz relatório da área técnica do FNDE.

O superfaturamento na compra dos ônibus também foi apontado em parecer da Controladoria Geral da União (CGU). Garigham Amarante é quem assina o processo de licitação.

Fonte: Socialismo Criativo