MPF vê conduta ‘ilícita e imoral’ de Bolsonaro com funcionária fantasma

25/03/2022 (Atualizado em 25/03/2022 | 11:57)

Wal do Açaí, Carlos (esq.) e Jair Bolsonaro Wal do Açaí, Carlos (esq.) e Jair Bolsonaro – Wal Bolsonaro no Facebook
Wal do Açaí, Carlos (esq.) e Jair Bolsonaro Wal do Açaí, Carlos (esq.) e Jair Bolsonaro – Wal Bolsonaro no Facebook


O presidente Jair Bolsonaro (PL) cometeu conduta “ilícita e imoral” durante os 15 anos que manteve Walderice dos Santos da Conceição, a Wal do Açaí, como funcionária fantasma em seu gabinete quando era deputado federal.

A conclusão é do Ministério Público Federal (MPF ) Bolsonaro por improbidade administrativa. Wal do Açaí foi secretária parlamentar de Bolsonaro na Câmara. As informações são da Folha, que revelou o caso.

“Tal conduta, absolutamente imoral e manifestamente ilícita, foi reiteradamente praticada por mais de 15 anos, somente tendo cessado em razão da repercussão negativa, após divulgação pela imprensa, durante a última campanha eleitoral”, concluiu o Ministério Público.

Em depoimento dado durante as investigações, Wal do Açaí deixou claro para os procuradores que não exerceu nenhuma atividade compatível com o cargo em que era nomeada.

Ela disse jamais sequer ter ido a Brasília.

Aos procuradores, a ex-funcionária também contradisse as próprias declarações divergentes dadas por Bolsonaro desde que o escândalo veio à tona.

Wal mora na mesma rua em que Bolsonaro tem uma casa, na Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ).

Ela afirmou que escondeu dos moradores locais que trabalhava para o então deputado e que sempre falava diretamente com Bolsonaro, que havia dito que o contato dela era feito com seus assessores.

Leia também: PF abre inquérito contra Bolsonaro por fake news sobre vacina contra covid-19

Moradores da vila afirmaram à Folha, ainda em 2018, que Wal prestava serviços particulares na casa de Bolsonaro e que o marido dela era caseiro do presidente.

“Mambucaba fica a mais de 50 km de distância do centro de Angra dos Reis e, segundo asseverado por Walderice e Edenilson, a quantidade de moradores não chega a 300, sendo boa parte parente de Walderice”, afirma o Ministério Público Federal.

Sem justificativa para funcionária fantasma

Para os procuradores, “não há como justificar a manutenção de um secretário parlamentar, com jornada laboral de 40 horas semanais, exclusivamente para receber as demandas de seus habitantes, sobretudo quando o próprio Bolsonaro declarou não ter interesse nem ser o representante dos eleitores daquela região”.

O que reforça o posicionamento do MPF de que “tal atividade não justifica, por si só, sua manutenção no cargo de secretário parlamentar por mais de 15 anos”.

A reportagem confirmou à época que Wal trabalhava todas as tardes na venda que leva seu nome. Sem saber dizer qual a função desempenhada por ela, Bolsonaro afirmou durante a campanha eleitoral que “crime dela foi dar água para os cachorros”. No mesmo dia ela pediu exoneração.

Trocas de cargo intensa entre funcionários de Bolsonaro

De acordo com a Folha, a análise dos documentos relativos aos 28 anos em que Jair Bolsonaro foi deputado federal, de 1991 a 2018, mostra uma intensa e incomum rotatividade salarial de seus assessores, atingindo cerca de um terço das mais de cem pessoas que passaram por seu gabinete nesse período.

Wal também já fez parte da rotatividade salarial dentro do gabinete e já teve salários superiores aos R$ 1.416,33, em valores não corrigidos, que ela recebia nos últimos tempos no cargo.

Fonte: Socialismo Criativo