Grupos neonazistas crescem no Brasil durante governo Bolsonaro

18/01/2022 (Atualizado em 18/01/2022 | 13:52)

Foto: Spencer Platt/Getty Images
Foto: Spencer Platt/Getty Images

Grupos neonazistas trazem de volta a sombra da suástica nazista, que avança no Brasil do presidente Jair Bolsonaro (PL). Empoderados pelo discurso racista, anticomunista, armamentista e LGBTfóbico do mandatário, grupos radicais de extrema direita e de inspiração em Hitler proliferam nas redes e até se arriscam a se mostrar em pequenos grupos nas ruas com bandeiras, palavras de ordem e, por vezes, violência. O crescimento dessa vertente de ultradireita no país durante o Governo Bolsonaro pode ser quantificado na internet.

Em entrevista ao Fantástico exibida no domingo (16), a antropóloga Adriana Dias revelou que existem atualmente pelo menos 530 núcleos neonazistas no Brasil com cerca de 10 mil pessoas ativas.

Um mapa elaborado por uma equipe de estudiosos revelou que as células de grupos neonazistas cresceram 270,6% no Brasil entre janeiro de 2019 e maio de 2021, e se espalharam por todas as regiões do país, impulsionadas pelos discursos de ódio da extrema-direita contra as minorias representativas, amparados pela falta de punição.

Segundo a antropóloga, a maioria dessas pessoas se identificam abertamente como neonazistas e têm em comum o ódio contra feministas, judeus, negros e a população LGBTQIAP+. “Eles começam sempre com um ódio ao feminino. Eles têm antissemitismo, eles têm ódio a negro, eles têm ódio a gays, ódio a nordestinos, ódio a imigrantes, negação do holocausto”, declarou.

Em outro levantamento realizado em junho de 2020 pela ONG Safernet, que promove os direitos humanos na rede e monitora sites radicais, em maio do mesmo ano foram criadas 204 novas páginas de conteúdo neonazista. Em maio de 2019 eram 42 páginas e 28 páginas em maio de 2018. Segundo a organização, há uma relação de causalidade entre o que diz e faz o presidente e esta radicalização nas redes. Em nota, a entidade afirmou ser “inegável que as reiteradas manifestações de ódio contra minorias por membros do Governo Bolsonaro têm empoderado as células neonazistas no Brasil”.

Certeza da impunidade

Ao Fantástico, a juíza federal Cláudia Dadico apontou a falta de punição e de uma legislação clara sobre esse tema e contra o discurso de ódio no Brasil, como obstáculo para a punição desses criminosos. Conforme a magistrada, esses discursos não podem ser confundidos com liberdade de expressão.

“Os casos que tenho acompanhado da Polícia Federal tem tido realmente um esforço grande no sentido de investigar e punir. O que ocorre é que muitas vezes alguns operadores do direito têm uma compreensão da liberdade de expressão que acaba, de certa forma, obstaculizando a punição desses crimes, que claramente não se situam dentro do campo da liberdade de expressão”, afirmou Dadico.

O promotor de justiça do Grupo de Atuação e Combate ao Crime Organizado do Rio de Janeiro (Gaeco-RJ), Bruno Gaspar, ressalta que “a liberdade de expressão não é ilimitada. Ela não autoriza manifestação discriminatória ou preconceituosa.”

Os núcleos nazistas se concentravam na região Sul do Brasil, mas a antropóloga Adriana relata que as células se espalharam para as cinco regiões do Brasil. Ela destaca a região Centro-Oeste e Sudeste, com destaque para Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Bolsonaro recebe neta de nazista

Em julho de 2021, Bolsonaro recebeu, no Palácio do Planalto, Beatrix von Storch, a neta do ministro das Finanças de Adolf Hitler (Johann Ludwig Schwerin von Krosigk) e filiada ao partido alemão ultradireitista de linha neonazista AfD (Alternativa para a Alemanha). O líder extremista aparece numa foto, sorridente, ao lado da mulher, em plena sede da chefia do Estado brasileiro.

Beatrix von Storch, que é deputada em seu país, já havia aparecido ao lado, durante visitas, da deputada radical Bia Kicis (PSL-DF) e do filho do presidente, o também deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Na foto presidencial, um outro homem, identificado como seu marido, também aparece.

O partido AfD (acrônimo em alemão que significa ‘Alternativa para a Alemanha’) é uma organização ultrarradical que abriga os membros mais extremistas do espectro político daquele país. A sigla defende abertamente ideias xenofóbicas, racistas, segregacionistas e violentas. Seus principais alvos são os muçulmanos, mas ainda pode ser notado um vigoroso antissemitismo em suas fileiras.

Segundo a imprensa alemã, seus membros nutrem simpatia pelo Nazismo e pela figura de Adolf Hitler, mas manifestações desse tipo são feitas de forma velada, muito por conta da forte reação que manifestações desse tipo produzem na sociedade germânica.

Ano passado, o Serviço Secreto da Alemanha colocou a AfD sob vigilância, por considerar suas atividades perigosas para a nação.

Supremacia no governo Bolsonaro

Em maio de 2021, o assessor especial para assuntos internacionais de Bolsonaro, Filipe Martins, foi indiciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por reproduzir gesto racista durante em audiência no Senado Federal transmitida ao vivo, realizada no dia 24 de março.

Em momento que aparecia nas câmeras, Martins fez com as mãos um gesto simbolizando as letras “W” e “P”, das palavras “White Power”, que significam “Poder Branco”, “Supremacia Branca”, em inglês. O gesto remete ao movimento racista de extrema-direita com atuação mundial.

O gesto tem como objetivo incitar grupos de supremacia branca, atitude conhecida como “dog whistle” (“apito de cachorro”, em português). 

Em 2020, o então secretário de Cultura de Bolsonaro, Roberto Alvim, perdeu o cargo após fazer um vídeo com discurso muito semelhante ao ministro de Hitler da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, antissemita radical e um dos idealizadores do nazismo.

Coleção nazista no Rio

Em outubro do ano passado, a Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu um homem de 58 anos, identificado como Aylson Proença Doyle Linhares, suspeito de estupro de vulnerável contra um menino de 12 anos. No entanto, em seu apartamento, localizado na Vargem Grande, na zona oeste da cidade, os agentes encontraram uma vasta coleção com material nazista, avaliada em milhões de reais.

Entre os itens encontrados com Aylson Proença Doyle Linhares, havia 12 fardas originais, bandeiras, um quadro de Adolf Hitler, recortes de jornal dos anos 1950 sobre o nazismo e fascismo, medalhas do Terceiro Reich, capacete militar, e um documento da SS (Schutzstaffel) – organização paramilitar ligada ao partido nazista, com a foto do suspeito — Linhares disse à polícia que sua coleção vale R$ 19 milhões.

De acordo com as leis brasileiras, pode ser preso por um a três anos quem fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos nazistas. Na época, o delegado Maurício Armond informou que aquela foi a primeira vez que a Polícia Civil encontrou “um material nazista com todo esse volume”.

Com informações do El País

Fonte: Socialismo Criativo