Artigo: É possível um país sustentável, por Alessandro Molon

18/11/2021 (Atualizado em 18/11/2021 | 14:01)

Foto: Divulgação
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Por Alessandro Molon

Quantos de nós crescemos com a promessa de que o Brasil seria o país do futuro? Pois o futuro chegou, e o Brasil ocupa o oitavo lugar no ranking da desigualdade; 19 milhões estão com fome;14 milhões, desempregados. Ossos e pés de galinha, que costumavam ser descartados, voltaram às mesas das famílias do país que é o maior exportador de carne do mundo.

O dono da maior biodiversidade do planeta não tem indústrias que aproveitem seu potencial e deixa suas terras serem saqueadas, griladas e devastadas. Investe milhões em atividades poluentes, que pouco empregam e muito destroem. Como esperar que esse modelo cinza, excludente e insustentável gerasse um futuro diferente?

Em 2018, um grupo de ativistas americanos chamou a atenção com a proposta de enfrentamento aos múltiplos desafios sociais e ambientais de maneira conjunta: um Green New Deal (GND). A ideia ganhou corpo com o apoio dos parlamentares democratas Alexandria Ocasio-Cortez e Bernie Sanders. Começamos a refletir sobre como aplicá-la a nossa realidade.

Seria possível recuperar a atividade econômica e reduzir a pobreza enfrentando a devastação ambiental? Como custear isso? Levei essas perguntas a respeitados pesquisadores do Instituto de Economia da UFRJ e, juntos, construímos uma proposta.

Apresentamos nossos achados na COP26, em Glasgow. Em “30 ações para fazer do Brasil um país justo e sustentável até 2030”, detalhamos nossa proposta de GND – baseada em forte investimento do Estado na geração de empregos em atividades de baixo carbono, construção de infraestrutura resiliente e expansão dos serviços públicos para atender à população. É, mais do que um plano de recuperação econômica, um convite para um novo pacto, em que a dignidade das pessoas esteja no centro das decisões.

Com a implementação do GND Brasil, 9,5 milhões de postos de trabalho serão criados com salário médio de R$ 26.600 por ano. Serão mais e melhores empregos do que seriam criados com o mesmo investimento no modelo econômico atual (8,8 milhões de postos de trabalho). Enquanto isso, preservaremos biomas e reduziremos nossas emissões no equivalente a 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano até 2030.

No estudo, mostramos como pagar por isso. A conta fecha. Uma das formas de financiar o plano é o aumento de arrecadação provocado pelo próprio programa, de R$ 121 bilhões anuais. Outras fontes são instrumentos tributários e fiscais, como imposto sobre carbono e acordos de cooperação internacional.

No entanto não basta o plano caber no bolso. Para sair do papel, é preciso que ele esteja nas mentes e nos corações de todos nós. O Congresso precisará aprovar mudanças e parar boiadas, os governos subnacionais precisarão fazer a sua parte, e a sociedade precisará se engajar. Temos de construir um compromisso coletivo completamente novo no Brasil.

Em Glasgow, mostramos que somos um país que pode e quer crescer sem deixar ninguém para trás e sem destruir o meio ambiente. Existe uma saída justa e sustentável para os dilemas do nosso país, e nós temos um plano.

* Artigo publicado originalmente no jornal O Globo, nesta quinta-feira (18), pelo líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon. 

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