Bolsonaro quer ferramenta para espionar opositores

17/01/2022 (Atualizado em 17/01/2022 | 16:14)

Vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos). Foto: Caio César/CMRJ.
Vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos). Foto: Caio César/CMRJ.

Um representante do “gabinete do ódio”, do presidente Jair Bolsonaro, que integrou a comitiva presidencial em Dubai no ano passado conversou com um representante da empresa DarkMatter na feira aeroespacial conhecida como Dubai AirShow, com o interesse de municiar o grupo paralelo com uma poderosa ferramenta espiã, para ser usada, em especial, no ano eleitoral.

Segundo reportagem de Jamil Chade e Lucas Valença no Uol, o especialista em inteligência e contrainteligência, cujo nome não foi informado, responde extraoficialmente ao vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos).

DarkMatter, por sua vez, é uma empresa com sede em Abu Dhabi. Composta, em sua maioria, por programadores israelenses egressos da Unidade 8200, força de hackers de elite vinculada ao exército de Israel, a companhia desenvolveu sistemas capazes de invadir computadores e celulares de alvos, inclusive desligados.

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O encontro teria ocorrido em 14 de novembro em uma sala privativa no espaço cedido por Israel, como ressaltou uma fonte ligada à inteligência do governo e que esteve presente na comitiva presidencial.

Coincidentemente, no mesmo dia, Jair Bolsonaro (PL) cumpria uma das agendas de sua viagem aos Emirados Árabes: a inauguração, no mesmo evento, do “pavilhão Brasil”.

Conversas em paralelo com outras empresas

O “gabinete do ódio” também tem mantido conversas em paralelo com outras empresas para obter programas espiões.

Fontes ligadas ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) afirmaram aos repórteres que uma delas seria a Polus Tech, que tem como CEO o programador israelense Niv Karmi, um dos ex-fundadores da NSO Group, empresa dona da poderosa ferramenta espiã Pegasus (Niv é o “N” da sigla NSO).

Especialistas do setor indicam que uma das técnicas oferecidas pela companhia é a “infecção tática” de celulares. A tecnologia desenvolvida permite a quem detém o software ter acesso ao celular e a todo seu conteúdo quando o aparelho se conecta a uma rede – tudo isso sem o dono do smartphone saber.

Em seu site, o CEO da empresa explica que optou por ter sede na Suíça por “acreditar na disciplina, precisão e excelência em engenharia da indústria relojoeira suíça”, e que isso era “necessário para desenvolver o tipo de produtos que a Polus deseja construir”.

Ele não cita, porém, que a cidade escolhida para ser a sede, Zug, é uma espécie de área com importantes vantagens fiscais dentro própria Suíça, que já é um paraíso fiscal.

As negociações com as duas empresas, que forneceriam ao grupo controlado por Carlos Bolsonaro uma ferramenta para espionar opositores, jornalistas e críticos em ano eleitoral, ainda não foram finalizadas.

Procurados pelo UOL, o vereador Carlos Bolsonaro, o GSI e o Palácio do Planalto não responderam aos questionamentos até a publicação da reportagem.

Pegasus

Em maio de 2021, foi revelado que o governo abriu uma licitação para a compra da ferramenta de espionagem israelense Pegasus. De acordo com reportagem do portal UOL, a compra do programa e a abertura da licitação teriam sido articuladas por Carlos Bolsonaro dentro do que vem se chamando de “Abin paralela”.

Isso porque o pregão teria sido aberto em detrimento da própria Abin, a responsável pelos serviços de inteligência, junto ao Ministério da Justiça, a mando do filho do presidente Jair Bolsonaro.

Conforme explicado pelo professor Bruno Huberman no blog Terra em Transe, na Fórum, “o NSO Group é uma empresa bastante obscura cujos softwares já teriam sido usados pelos governos do México e da Arábia Saudita para vigilância política. Além, é claro, de palestinos e demais inimigos israelenses”.

Por Carolina Fortes na Revista Fórum

Fonte: Socialismo Criativo