Por que o Dia da Consciência Negra não é reconhecido como feriado nos municípios gaúchos?

19/11/2021 (Atualizado em 19/11/2021 | 21:34)

Arte: Endrigo Valadão/PSB RS
Arte: Endrigo Valadão/PSB RS

Diversas cidades do Brasil reconhecem o Dia da Consciência Negra – celebrado em 20 de novembro - como feriado em homenagem à morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola brasileiro durante o período colonial. É bem verdade que ainda temos um longo caminho a trilhar pelo fim do racismo, mas por que no Rio Grande do Sul ainda não publicou nenhuma lei estadual que faça menção à data?

Acredite se quiser, mas o RS é estado com maior número de terreiros no país, a frente da Bahia e do Rio de Janeiro. Apesar do Rio Grande do Sul ser considerado o berço do racismo brasileiro, calcula-se que haja 65 mil terreiros em todo o estado. Ou seja, é praticamente impossível não ouvir à noite o batuque dos tambores nos bairros das cidades gaúchas.

Em Porto Alegre, há 50 anos, cansados dos problemas enfrentados pela negritude brasileira – quatro jovens idealizaram a criação de uma data que fizesse a população refletir sobre a questão racial. A partir de 1971, o Dia da Consciência Negra se tornou referência nacional. Porém, no Rio Grande do Sul, a data continua sem ter o devido reconhecimento.

Para o secretário estadual da Negritude Socialista Brasileira no RS (NSB), Vladimir Massa, o fato do Rio Grande do Sul ser o segundo estado com mais brancos no país reforça o motivo do Estado não reconhecer a data como feriado:


O dia 20 de novembro é de suma importância para a reflexão da inserção do povo negro em todos os âmbitos da sociedade. Essa data também reúne ações no combate ao racismo e nos lembra da luta da negritude para a conquista de espaços”, disse o socialista, ressaltando figuras históricas como Nelson Mandela, Malcolm X, entre tantas outras, que batalharam pelos direitos da população negra.


Desigualdade

O RS é um dos estados com maior diferença de desenvolvimento humano entre brancos e negros, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A maior diferença entre brancos e negros está nos quesitos educação e renda. Nesse contexto, vale ressaltar o trabalho realizado pela Fundação Palmares – a nível nacional - na criação de ações afirmativas com o objetivo de eliminar as desigualdades históricas e as discriminações raciais, étnicas e religiosas. Bem como, o cumprimento do sistema de cotas nas universidades públicas e concursos com a reserva de vagas para o povo negro.

Quando o assunto é saúde, a pandemia não é a mesma para todos. Os negros são os que mais morrem e os que menos recebem vacinas contra a Covid-19 no Brasil. Mas, infelizmente, esse cenário também se repete em outros lugares do mundo. O que demonstra a falta de ações governamentais em prol da saúde da população negra.

Fazendo um recorte por raça e gênero, a situação das mulheres negras é ainda pior. No mercado de trabalho, por exemplo, apesar de ter ocorrido um avanço na valorização salarial das mulheres negras nos últimos anos, a escala de remuneração manteve-se inalterada: homens brancos têm os melhores rendimentos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras. Ou seja, elas são as que mais sofrem com baixos salários e a falta de oportunidades de emprego.

Com tantas razões para refletir profundamente sobre os problemas que afetam a negritude, o que falta para o Rio Grande do Sul tornar o Dia da Consciência Negra feriado estadual? Fica o questionamento.

 

Fonte: Stéphany Franco/Ascom PSB RS