Seis meses de vacina no Brasil: lentidão, escândalos e descaso

19/07/2021 (Atualizado em 19/07/2021 | 09:49)

Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O Brasil completou seis meses de vacinação neste último sábado (17) com menos de 16% da população vacinada contra a Covid-19 e mais de 540 mil mortos pela doença. Denúncias de corrupção na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde e a defesa de tratamento sem eficácia pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido), que se vê cada vez mais envolvido nas suspeitas, marcam esse sombrio período. O Brasil continua em 66º lugar no ranking global de aplicação de doses da vacina.

Os imunizantes da CoronaVac, do Instituto Butantan, e da Pfizer, que sofreram resistência do governo Jair Bolsonaro para serem compradas, segundo indica a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, respondem hoje por 50,2% das doses aplicadas no Brasil.

Depoimentos e documentos colhidos pela comissão mostram que, ao mesmo tempo em que o Ministério da Saúde colocava obstáculos para a aquisição desses dois imunizantes, a pasta participava, em paralelo, de negociações com suspeitas de irregularidades e até pedido de propina.

Sem que nenhuma dose tivesse sido entregue, o contrato com a Covaxin, assinado em tempo mais curto que as demais, acabou suspenso diante dos indícios de fraude.

Postura hostil contra a China prejudica vacina

A vacina da AstraZeneca, responsável por mais 46,6% das doses aplicadas, também foi impactada por ações do governo. Embora o contrato tenha sido fechado no ano passado, a avaliação da CPI é que a postura hostil de Bolsonaro em relação à China resultou em atraso no envio por aquele país dos insumos necessários para a produção das vacinas pela Fiocruz.

A vacina da Janssen, que responde pelos 3,3% restantes de doses aplicadas no país, é o único que não está na mira da comissão até o momento.

Vacina parada no Brasil

Não bastasse o ritmo lento e as denúncias de corrupção, um lote de 600 mil doses de vacinas da Pfizer ficou parado em depósito do Ministério da Saúde localizado ao lado do aeroporto de Guarulhos de segunda (12) a quinta-feira (15).

A carga foi liberada apenas na noite da quinta-feira. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a liberação dependia de cumprimento de pendências por parte do importador.

Em nota, a agência afirma que “a fim de agilizar o recebimento de vacinas no Brasil, todos os lotes importados são desembaraçados pela Anvisa no mesmo dia, mesmo que faltem documentos, mediante assinatura de TRG [Termo de Guarda e Responsabilidade], sob responsabilidade do importador.”

A demora fora do comum causou apreensão em secretários de Saúde, que aguardavam as vacinas para dar continuidade ao processo de imunização em seus estados.

Sistema fora do ar

Em nota, o Ministério da Saúde afirma que “assim que desembarcaram em Guarulhos, as doses seguiram para o processo de checagem de temperatura, feito dentro do período esperado. Depois da análise do laboratório, em conjunto com técnicos do Ministério, houve tentativa de enviar os documentos na segunda-feira (12), mas o sistema da Anvisa estava fora do ar. O processo seguiu na terça-feira (13) e foi liberado pela agência reguladora dois dias depois.”

Socialistas criticam descaso com vacinas

O líder da Oposição, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), pede o impeachment de Bolsonaro. “Chega de tanto descaso”, criticou.

O líder da Minoria, deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), afirma que só há eficiência no governo na hora de “pedir propina”.

Apesar de vídeo, Pazuello nega ter negociado vacina

Em nota divulgada na noite de sexta-feira (17), o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negou que tenha negociado com empresa que tentava intermediar a venda de 30 milhões de doses da CoronaVac diretamente ao governo Jair Bolsonaro pelo triplo do preço oferecido pelo Instituto Butantan, representante oficial do laboratório SinoVac no Brasil.

Disse que “foi à sala unicamente cumprimentar os representantes da empresa”.

“Ante a importância temática, uma Equipe do Ministério da Saúde os atendeu e este então Ministro de Estado – que detém o papel institucional de representar o Ministério da Saúde – foi até a sala unicamente para cumprimentar os representantes da Empresa, após o término da reunião. A Assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde então sugeriu que fosse realizada a gravação de um pequeno vídeo de memória”, disse Pazuello na nota.

O vídeo

No vídeo, divulgado pela Folha de S.Paulo, Pazuello diz que o Ministério da Saúde já estaria assinando um memorando para a compra da vacina dos atravessadores.

“Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento já assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população”, diz o então ministro.

Governo negociava Coronavac pelo triplo do valor

A proposta da World Brands oferece os 30 milhões de doses da vacina do laboratório chinês Sinovac pelo preço unitário de US$ 28 a dose. Dois meses antes da reunião, o governo havia anunciado a aquisição de 100 milhões de doses da Coronavac do Instituto Butatan, pelo preço de US$ 10 a dose.

Na nota, Pazuello diz que “diante da importância temática, determinei à Secretaria Executiva do Ministério da Saúde que fizesse uma pré-sondagem acerca da proposta a ser ofertada pela World Brands Distribuidora S.A.”, contrariando a própria declaração no vídeo.

Fonte: Socialismo Criativo - Com informações da Revista Fórum, G1, Folha de S. Paulo