Covid-19: ataques de Bolsonaro à China prejudicam produção de vacinas

06/05/2021 (Atualizado em 06/05/2021 | 13:28)

Reprodução G1
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As declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com críticas à China afetam a liberação de insumos pelas autoridades daquele país e vão atrasar a produção de vacinas contra a Covid-19. O alerta foi dado pela direção do Instituto Butantan nesta quinta-feira (6). A fala do chefe do Executivo também foi criticada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Os comentários sobre a fala de Bolsonaro foram feitos durante evento para liberação de lote de cerca de 1 milhão de doses da CoronaVac. Segundo Doria, as afirmações de Bolsonaro geraram mal-estar na diplomacia chinesa.

 

Bolsonaro ataca novamente a China

Em um novo ataque ao gigante asiático e principal fornecedor de insumos para o combate à Covid-19, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu na quarta-feira (5) que o país asiático teria se beneficiado economicamente da pandemia e afirmou que o coronavírus pode ter sido criado em laboratório. A fala ecoa tese que não encontra respaldo em investigação da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre as possíveis origens do vírus.

“Todas as declarações neste sentido têm repercussão. Nós já tivemos um grande problema no começo do ano e estamos enfrentando de novo esse problema”, disse Dimas Covas, diretor do Butantan.

“Embora a embaixada da China no Brasil venha dizendo que não há esse tipo de problema, mas a nossa sensação de quem está na ponta é que existe dificuldade, uma burocracia que está sendo mais lenta do que seria habitual e com autorizações muito reduzidas e volumes. Então obviamente essas declarações têm impacto e nós ficamos à mercê dessa situação”.

Dimas Covas, Instituto Butantan

O diretor do instituto diz que até dia 14 há compromisso de entrega de vacina, de um lote que totaliza 5 milhões de doses, e que depois disso não haverá mais matéria-prima para processar. “Pode faltar [insumos]? Pode faltar. E aí nós temos que debitar isso principalmente ao nosso governo federal que tem remado contra. Essa é a grande conclusão”, disse Covas.

 

Nova data para liberação de insumos

Covas explicou que a próxima liberação de insumos teve a data de autorização adiada do dia 10 para o dia 13. O volume inicial seria de 6 mil litros, e agora a expectativa é de 2 mil litros. Para ele, as mudanças não são na produção da Sinovac e sim determinadas pelas autorizações das autoridades chinesas.

Ele acrescentou ainda que há várias informações mentirosas e mirabolantes no discurso do presidente, citando que teria havido uma fabricação do vírus. “A Organização Mundial de Saúde fez uma auditoria, podemos dizer assim, e deixou muito claro quais as condições de surgimento desse vírus, esse relatório foi disponibilizado para o mundo, não resta nenhuma dúvida. E outro ponto, a China fez o que o Brasil não fez, a China controlou o vírus”.

Na quarta, Bolsonaro falou em guerra química. “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano [que] ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra?”, disse o presidente em evento no Palácio do Planalto, em Brasília. “Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês.”

 

Doria critica falta de diplomacia do governo Bolsonaro

O governador João Doria fez críticas à falta de atuação na diplomacia do governo brasileiro em relação à China.

“Diante de uma pandemia, o insumo da principal vacina que vai no braço dos brasileiros vem da China, o mal-estar provocado por sucessivas declarações desastrosas do ministro da Economia Paulo Guedes e agora do presidente da República Jair Bolsona, e o Ministério das Relações Exteriores silencia. Que Ministério das Relações Exteriores é esse que não faz relações positivas, construtivas, com países, seja pela economia, seja pelo fato de que a China é a principal provedora de insumos para as vacinas?”, questionou o governador.

Questionado sobre o assunto, Doria afirmou que deve se vacinar nesta sexta-feira (7). “Eu vou tomar a vacina amanhã. E por que vou votar amanhã? Porque eu tenho que seguir 15 dias de diferença da data que tomei a vacina contra a gripe e a data para a vacinação da Covid”, disse.

Parlamentares comentam polêmica

O líder da Oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ), criticou a postura do presidente em relação à China e ao combate à pandemia. “Para desviar a atenção dos escândalos revelados pela CPI da Covid, Bolsonaro parece estar disposto a tudo, até mesmo prejudicar a vacinação”, escreveu.

O assuntou foi abordado durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado Federal, que ouve na manhã desta quarta o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. O senador Tasso Jereissati (PSBD-CE) informou que vai apresentar um requerimento para convocar o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem Rodrigues, para prestar esclarecimentos sobre a fala do chefe do Executivo que insinua uma guerra biológica.


Fonte: Socialismo Criativo com informações da Folha de S. Paulo