Socialistas classificam como “falacioso” o discurso de Bolsonaro na Cúpula do Clima

23/04/2021 (Atualizado em 23/04/2021 | 10:39)

Foto: Divulgação/PSB nacional
Foto: Divulgação/PSB nacional

O coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista da Câmara, deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), considerou o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Cúpula do Clima “falácia pura, repetida e requentada”.

O evento é organizado pelo governo dos Estados Unidos e está sendo transmitido nesta quinta-feira (22) ao vivo de forma virtual devido à pandemia. Líderes mundiais de 40 países estão reunidos para discutir a agenda ambiental e o enfrentamento às mudanças climáticas, com os EUA interessados em se recolocar como protagonista no cenário internacional nesta pauta após os anos Trump.

Em seu discurso, o presidente Jair Bolsonaro disse que o Brasil “está na vanguarda” no enfrentamento das mudanças do clima, o que é exatamente o contrário. “O Brasil não apenas se destaca pelas ações do Brasil, mas está na vanguarda no combate à mudança do clima, tanto por nossas conquistas, quanto pelos compromissos que estamos dispostos a assumir. O Brasil participou com menos de 1% das emissões de gases do efeito estufa. No presente respondemos por menos de 3% das emissões de gases anuais”, acrescentou.

Agostinho desmente as palavras do presidente brasileiro. “O Bolsonaro falou em emissões históricas. Isso foi deixado de lado há muito tempo. O Brasil é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa por desmatar mais de um milhão de hectares por ano. A nossa meta climática é um tremendo retrocesso. Suas palavras não representam a omissão que o governo possui nessa área”, disse Agostinho ao Broadcast Político do Estadão.

O presidente ainda vendeu a imagem de um governo preocupado com o desmatamento na Amazônia. Ele também afirmou que o Brasil assumiu o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030 e que o País atingiria a neutralidade climática em 2050.

Bolsonaro pediu também uma compensação financeira ao Brasil pela conservação dos biomas nacionais – apesar do governo ter R$ 2,9 bilhões parados no âmbito do programa Fundo Amazônia, para combate ao desmatamento – e para financiar projetos ambientais no país, mas não falou de valores antecipados e também não condicionou isso a avanços nas metas climáticas.

Para Agostinho, “mentiras sinceras não interessam”. “Enquanto os países apresentam metas ousadas, o governo brasileiro mira o retrovisor na Cúpula do Clima. Zero credibilidade”, afirmou.

O líder da Oposição na Câmara, deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), também criticou o discurso de Bolsonaro no evento. O socialista vai propor na próxima reunião do Colégio de Líderes da Casa que seja pautada a urgência do PL 3961/2020, que decreta Emergência Climática no Brasil e estabelece meta de neutralização das emissões de gases de efeito estufa no Brasil até 2050 e prevê a criação de políticas para a transição sustentável.

“Bolsonaro mais uma vez vai à comunidade internacional para anunciar que está trabalhando pela preservação do meio ambiente, enquanto suas ações indicam o contrário. Vamos fazer um teste. Vamos ver se o governo apoia o PL que apresentei no ano passado, que prevê a neutralização das emissões até 2050, como anunciado hoje na Cúpula do Clima. E, caso o governo não apoie, será uma oportunidade para o Congresso demonstrar que tem compromisso com a luta contra o aquecimento global”.

A deputada federal Lídice da Mata (PSB-BA) apontou que os índices de desmatamento atuais são três vezes maiores do que a meta proposta em 2009 pelo Brasil na Convenção do Clima, em Copenhague (Dinamarca). “O Brasil está muito mal representado por uma posição de um presidente que insiste em mentir para a Nação e um ministro do Meio Ambiente que insiste em ficar contra a defesa do meio ambiente em nosso País”, criticou.

O deputado federal Camilo Capiberibe (PSB-AP) também classificou o discurso do presidente como mentiroso por afirmar que aumentou os recursos para a fiscalização ambiental após sancionar o orçamento da União cortando os recursos de todos os órgãos do meio ambiente.

“Essa mentira é reveladora pois além de cortar recursos orçamentários e do fundo Amazônia, Bolsonaro e seu anti-ministro do meio ambiente, desmontaram a fiscalização (temos os menores índices de autuação de infratores ambientais); burocratizaram a cobrança das multas; e eles também vem mudando as normas infralegais através de decretos e portarias para, palavras do ministro Ricardo Salles, ‘passar a boiada’ enquanto a mídia está focada na cobertura do genocídio causado pelo governo Bolsonaro na pandemia da Covid-19”, explicou em suas redes sociais.

O socialista Bira do Pindaré (PSB-MA) segue a mesma linha de crítica. “Bolsonaro mentiu do começo ao fim na Cúpula do Clima. Desmantelou sistema de fiscalização ambiental e incentivou a depredação. Não podemos esquecer das queimadas na Amazônia, no Pantanal, dos ataques ao INPE e contra os quilombolas e indígenas”.

A comunidade internacional vê com ceticismo as promessas do governo brasileiro, considerado descomprometido com a questão ambiental. O desmatamento da Floresta Amazônica, em março deste ano, foi o maior registrado para o mês em dez anos, segundo levantamento do  Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) com base nos dados obtidos via Sistema de Alerta do Desmatamento (SAD). A análise também mostrou que o desmatamento na região bateu recorde da série histórica para o acumulado de janeiro a março em 2021. Neste período, foram registrados 1.185 km² de áreas devastadas, mais do que o dobro do ano passado.

Em maio do ano passado, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu passar “a boiada” e “mudar” as regras de proteção ambiental e ligadas à área de agricultura enquanto atenção da mídia estava voltada para a Covid-19.

O deputado federal Gervásio Maia ressalta a má atuação de Salles à frente da pasta ambiental. “Desde que assumiu o Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles trabalha para inviabilizar qualquer estratégia de proteção, conservação e desenvolvimento sustentável na Amazônia. Fora Salles!”, defende em seu Twitter.

A cúpula será realizada até esta sexta-feira (23) e antecede a 26ª Conferência sobre o Clima, a Cop26, a ser realizada em novembro em Glasgow, na Escócia.

Fonte: PSB nacional - Com informações do Estadão, Folha de S. Paulo e portais de notícias