Artigo: Metade Sul - Desenvolvimento com características de sustentabilidade

29/07/2020 (Atualizado em 29/07/2020 | 18:21)

A noção de desenvolvimento sustentável tem sido utilizada como promotora de um novo modelo para a sociedade, capaz de garantir no presente ─ também às gerações futuras ─ a disponibilidade dos recursos e a manutenção dos serviços prestados pela natureza. Tem como uma de suas premissas o reconhecimento da falta de lastro ambiental nos padrões de uso e consumo estabelecidos pelas sociedades em crescimento, que caminham às cegas, em direção ao colapso.

Por outro lado, a vasta pluralidade de sentidos entre sustentabilidade e desenvolvimento torna-os semanticamente ambíguos, enfraquecendo a possibilidade de uma definição exclusiva. Isso porque o propósito de um e de outro pode estar focado no atendimento de interesses, por vezes orientados por circunstâncias diferenciadas, no que diz respeito à maneira de como os aspectos econômicos, sociais e ambientais são considerados, se isoladamente ou de forma integrada. E a despeito de seus inúmeros significados, o desenvolvimento sustentável pode ser visto como um novo paradigma cultural e científico, pois anseia pela construção de novos valores, percepções, conceitos e pensamentos, que determinarão como a sociedade irá enxergar a realidade vivida e como a ciência irá se organizar.

Portanto, o desenvolvimento sustentável jamais será alcançado a menos que se faça uma verdadeira revolução social, baseada na associação inseparável da ecologia e economia, que na prática trilham por caminhos divergentes, numa percepção distorcida e equivocada da realidade, de que o crescimento econômico é ilimitado e não dependente da disponibilidade dos recursos, os quais são vistos como inesgotáveis. Afinal, a Terra é uma só, os recursos são realmente finitos. E a forma de relacionamento que imprimimos sobre a natureza precisa ser redirecionada a um novo paradigma de desenvolvimento, em que pese a valoração dos bens e serviços prestados pela natureza. Mais do que isso, precisamos reconhecer que os mecanismos econômicos vigentes, que operam nesse relacionamento, são absolutamente perversos, distorcidos e insustentáveis.

De outra parte, as atenções para um futuro mais próspero precisam estar voltadas para o potencial de desenvolvimento econômico que cada região oferece. E já que estamos numa região privilegiada, que tem tudo para dar certo, precisamos focar no potencial dos recursos que nos rodeiam. Afinal, estamos ao lado da maior laguna costeira da América do Sul, com aproximadamente, 260 quilômetros de comprimento, que por conexão hídrica e sobre trilhos, nos liga ao centro industrial brasileiro, no litoral de São Paulo ao porto de Montevidéu, no Uruguai. Uma região estratégica do ponto de vista logístico, que nos conecta com mais de 90 países. Um complexo de transação de cargas que recentemente se qualificou na construção de plataformas de petróleo e produção de energia, que mesmo diante das dificuldades econômicas, vive a expectativa de novas oportunidades de mercado, seja pelo reestabelecimento do Polo Naval e emprego da mão de obra qualificada, seja pela mobilização de novos investimentos na capacidade metal mecânica instalada.

No campo da energia, as oportunidades de desenvolvimento sustentável são bem mais amplas do que parecem. Por aqui, o vento é constante, entre os melhores do mundo para produzir energia limpa. O nosso potencial de geração eólica é superior a 500 W/m² (fluxo médio de 7,5 m/s, a 50 m de altura). Apenas 13% da superfície terrestre apresenta vento na velocidade média igual ou superior a esta marca, segundo a Organização Mundial de Meteorologia (WMO). Infelizmente os projetos de geração pelo vento ainda são tímidos, sofrem entraves e apresentam problemas de alocação, com alguns empreendimentos edificados próximos às dunas ou sobre áreas úmidas importantes, um cenário de pressões que ameaçam os remanescentes naturais da paisagem costeira. E o potencial solar, que mesmo menor que de outras regiões brasileiras, não fica atrás. Inclusive, a nossa capacidade de geração supera o potencial da Alemanha, país líder neste segmento. E apesar das inúmeras oportunidades de negócio que existem nessa área, o aproveitamento desta fonte ainda é pequeno.

Mas é no agronegócio que as oportunidades são mais palpáveis. Novas culturas vêm ganhando espaço, sobretudo na região da Campanha, nos cultivos de uva e azeitonas. Atividades que vêm imprimindo um novo desenho de ocupação e desenvolvimento nos Pampas, que se abre à novas perspectivas na indústria e criação de gado especializada, de alto valor, de boas práticas, em pasto nativo, voltada ao mercado exigente de exportação. Também, há muitas oportunidades na produção de soja ecológica, sem adição de pesticidas, entre outras commodities de valor agregado elevado. E que em tempos de exigência ambiental, quem sair na frente terá mais chances.

Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande

Fonte: Comunicação PSB RS