O fracasso do governo brasileiro em proteger as
florestas pode comprometer a captação de investimentos internacionais. Ou
revemos nossa política de desmatamento e violação de direitos indígenas ou
vamos perder. Investidores institucionais que administram cerca de US$ 4
trilhões em ativos alertam o Brasil sobre condutas que atentam contra os
chamados padrões ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês ESG (Environmental,
Social and Governance), termo que sintetiza critérios de conduta e melhores
práticas do grande capital.
Liderados pela Storebrand, da Noruega, 29 fundos
do mundo inteiro solicitaram chamadas de vídeo com autoridades no Brasil para
discutir o assunto. Destacaram, em carta aberta enviada às embaixadas
brasileiras na Europa, Japão e EUA, preocupação com a proposta do governo para
legalizar a ocupação privada de terras públicas, principalmente concentradas na
Amazônia. Os investidores alertam que tal medida levaria a mais desmatamento, o
que “comprometeria a sobrevivência da Amazônia”.
No comunicado, Jan Erik Saugestad,
diretor-presidente da Storebrand Asset Management, disse que o desmatamento e
suas consequências “têm potencial de impactar negativamente os retornos de
longo prazo”. Também, que “o risco inerente de operar em um país politicamente
instável ou em um país que negligencia o clima e o meio ambiente faz parte da
análise ESG.” E que, se o Brasil prosseguir com a proposta, empresas associadas
a este modelo de política “poderão perder acesso ao mercado internacional de
capitais” e os títulos soberanos brasileiros “considerados de alto risco.” Com
certeza não desejamos isso.
Por outro lado, é evidente que os Fundos desejam
continuar investindo no Brasil. Mas é bom considerarmos o alerta. Desenvolvimento
econômico e a proteção do meio ambiente não precisam ser mutuamente exclusivos.
E esta é mais uma demonstração do quanto estamos caminhando na direção errada.
O descuido com o meio ambiente e questões sociais, incluindo políticas de
proteção do direito de povos tradicionais, pode ter forte impacto na economia
do país.
Outro alerta que merece consideração, é a carta
assinada por 29 deputados do Parlamento Europeu, enviada na quinta-feira da
semana passada (18), ao Presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ),
manifestando preocupação com a escalada de medidas com potencial de pôr em risco
o meio ambiente no Brasil.
Portanto, não há mais espaço para comportamentos
erráticos e defesas infames, como a do ministro do meio Ambiente, Ricardo
Salles, que sugeriu ao Governo aproveitar este momento de atenção à pandemia para
modificar as leis ambientais (passar a boiada). Não dá, o mundo está de olho e
podemos colher um prejuízo incalculável.
Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande
Fonte: Comunicação PSB RS