A taxa oficial de desmatamento dispara na Amazônia e os números indicam
elevação de 78% nos alertas de maio. O maior total
para o mês nos cinco anos da série histórica deste indicador. 12% acima do
registrado em maio de 2019. Os dados são do sistema de Detecção de Desmatamento
em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão
do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A tendência é
de aumento da destruição da floresta, já que o
período anterior teve recorde com 10 mil km² de
desmatamento.
O Deter é um
sistema do governo federal criado para orientar ações de fiscalização do Ibama.
O Deter não aponta o desmatamento, mas sim áreas sob alerta conforme análise de
imagens de satélite. Os dados são atualizados em períodos curtos, permitindo um
retrato mais fiel do que está ocorrendo na floresta. Já a taxa oficial de
desmatamento considera o acumulado de destruição da floresta, no período anual
de agosto do ano anterior até julho do ano seguinte, em consideração aos ciclos
de chuva e seca, desmatamento e queimadas. Ela é apresentada em relatório do
Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite
(Prodes), também do Inpe.
O crescimento
do desmatamento na Amazônia preocupa e a destruição pode ser bem maior do que
se acredita. O bioma contém a maior e mais diversa floresta tropical
do mundo, ocupa mais de 6,8 milhões de km² e abriga 33 milhões de pessoas,
em nove países Sul-Americanos. De acordo com a organização internacional Global
Forest Watch, o Brasil, a Bolívia e o Peru estão entre os países que mais perderam cobertura florestal
primária, entre 2018 e 2019. A grilagem de terras, a expansão de fronteiras
agrícolas, a criação de gado, a mineração e a exploração econômica
descontrolada, são apontadas por especialistas como as principais atividades
responsáveis pela perda das florestas.
Para o
climatologista Antonio Donato Nobre, pesquisador do Inpe, em entrevista à BBC
News Brasil, a perda de floresta amazônica é muito maior do que os quase 20% de
desmatamento, comentados nos meios de comunicação. Para o pesquisador, é
preciso explorar um panorama mais completo da destruição da floresta, em
consideração ao acúmulo de perturbações, como incêndio, extração de madeira,
caça descontrolada... Infelizmente, pouco conseguimos perceber o avanço da
degradação florestal. Como afirmou o botânico Jos Barlow, também entrevistado
pela BBC, não há nenhum tipo de política para evitar a degradação das
florestas. Barlow é professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e
pesquisador da Rede Amazônia Sustentável (RAS).
E a coisa só
piora! Com a pandemia, um cenário que já não era bonito tornou-se ainda pior. Já
acompanhávamos com apreensão notícias de hostilidades, desmonte de políticas
públicas de conservação, desmobilização de conselhos, afastamento de
servidores, ataques... Até que ficamos estupefatos com a fala do Ministro
Salles, na fatídica reunião ministerial do dia 22, divulgada pelo Supremo
Tribunal Federal, sugerindo aproveitar o momento para passar a boiada,
referindo-se às mudanças na legislação ambiental. Ao mesmo tempo que servidores
do IBAMA e do ICMBio vivem acuados, em silêncio, com medo de falar. E os
efeitos são inevitáveis.
Invasões,
derrubadas, extrações... O uso ilegal da terra e dos recursos naturais está
longe de ser uma exclusividade da Amazônia. A degradação ambiental pode ser
sentida com força em todos os biomas brasileiros. Mudanças severas na
legislação, também. Recentemente alterou-se o código ambiental do Rio Grande do
Sul. Uma mudança ruim, que vem influenciando outras, em vários municípios do
Estado. Justamente nós, os pioneiros na luta ambiental no Brasil ─ primeiro com
Henrique Roessler nos anos 1950 e depois com José Lutzenberger nos anos 1970 ─
enveredamos na direção oposta. Um caminho que reduz a proteção do Pampa e que
coloca em risco o pouco que sobrou da nossa Mata Atlântica.
Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande
Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande
Fonte: comunicação PSB RS