Alertas de desmatamento na Amazônia indicam nova temporada de devastação

17/06/2020 (Atualizado em 17/06/2020 | 10:56)

A taxa oficial de desmatamento dispara na Amazônia e os números indicam elevação de 78% nos alertas de maio. O maior total para o mês nos cinco anos da série histórica deste indicador. 12% acima do registrado em maio de 2019. Os dados são do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A tendência é de aumento da destruição da floresta, já que o período anterior teve recorde com 10 mil km² de desmatamento.
 
O Deter é um sistema do governo federal criado para orientar ações de fiscalização do Ibama. O Deter não aponta o desmatamento, mas sim áreas sob alerta conforme análise de imagens de satélite. Os dados são atualizados em períodos curtos, permitindo um retrato mais fiel do que está ocorrendo na floresta. Já a taxa oficial de desmatamento considera o acumulado de destruição da floresta, no período anual de agosto do ano anterior até julho do ano seguinte, em consideração aos ciclos de chuva e seca, desmatamento e queimadas. Ela é apresentada em relatório do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes), também do Inpe.
 
O crescimento do desmatamento na Amazônia preocupa e a destruição pode ser bem maior do que se acredita. O bioma contém a maior e mais diversa floresta tropical do mundo, ocupa mais de 6,8 milhões de km² e abriga 33 milhões de pessoas, em nove países Sul-Americanos. De acordo com a organização internacional Global Forest Watch, o Brasil, a Bolívia e o Peru estão entre os países que mais perderam cobertura florestal primária, entre 2018 e 2019. A grilagem de terras, a expansão de fronteiras agrícolas, a criação de gado, a mineração e a exploração econômica descontrolada, são apontadas por especialistas como as principais atividades responsáveis pela perda das florestas.
 
Para o climatologista Antonio Donato Nobre, pesquisador do Inpe, em entrevista à BBC News Brasil, a perda de floresta amazônica é muito maior do que os quase 20% de desmatamento, comentados nos meios de comunicação. Para o pesquisador, é preciso explorar um panorama mais completo da destruição da floresta, em consideração ao acúmulo de perturbações, como incêndio, extração de madeira, caça descontrolada... Infelizmente, pouco conseguimos perceber o avanço da degradação florestal. Como afirmou o botânico Jos Barlow, também entrevistado pela BBC, não há nenhum tipo de política para evitar a degradação das florestas. Barlow é professor da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e pesquisador da Rede Amazônia Sustentável (RAS).
 
E a coisa só piora! Com a pandemia, um cenário que já não era bonito tornou-se ainda pior. Já acompanhávamos com apreensão notícias de hostilidades, desmonte de políticas públicas de conservação, desmobilização de conselhos, afastamento de servidores, ataques... Até que ficamos estupefatos com a fala do Ministro Salles, na fatídica reunião ministerial do dia 22, divulgada pelo Supremo Tribunal Federal, sugerindo aproveitar o momento para passar a boiada, referindo-se às mudanças na legislação ambiental. Ao mesmo tempo que servidores do IBAMA e do ICMBio vivem acuados, em silêncio, com medo de falar. E os efeitos são inevitáveis.
 
Invasões, derrubadas, extrações... O uso ilegal da terra e dos recursos naturais está longe de ser uma exclusividade da Amazônia. A degradação ambiental pode ser sentida com força em todos os biomas brasileiros. Mudanças severas na legislação, também. Recentemente alterou-se o código ambiental do Rio Grande do Sul. Uma mudança ruim, que vem influenciando outras, em vários municípios do Estado. Justamente nós, os pioneiros na luta ambiental no Brasil ─ primeiro com Henrique Roessler nos anos 1950 e depois com José Lutzenberger nos anos 1970 ─ enveredamos na direção oposta. Um caminho que reduz a proteção do Pampa e que coloca em risco o pouco que sobrou da nossa Mata Atlântica.  


Professor Marcelo Dutra da Silva
Membro do PSB de Pelotas
Ecólogo – Doutor em Ciências
Instituto de Oceanografia - Universidade Federal do Rio Grande

Fonte: comunicação PSB RS