Artigo: O governo que se autodissolve

02/06/2020 (Atualizado em 02/06/2020 | 18:04)

 

Embora se soubesse o preocupante currículo do presidente, e que as expectativas fossem pouco alvissareiras, estamos vivenciando um verdadeiro pesadelo, acima de qualquer cenário imaginável.
            Um presidente, que se acha um “mito”, quando na verdade conduz o País para o abismo, ao tentar negar a gravidade da pandemia e incentivar a população para ir às ruas e, ainda, ele mesmo, provocar aglomerações, dando um péssimo exemplo.
            Triste de ver o incentivo ao ódio, às armas e à intolerância.  Um governo completamente desorientado, perdido em suas ações.  Pôde-se ter uma ideia, pelo vídeo da reunião ministerial da baixíssima qualidade do presidente e de seus principais ministros, que ao invés de pensarem em projetos e programas para o bem do Brasil, ficam destilando palavras venenosas e incitando o ódio e o terror.
            É de se estarrecer que o governo, em meio a pandemia, tenha trocado por duas vezes os ministros da saúde e não ter um projeto sério de enfrentamento e proteção contra o perigo da exposição ao vírus. Menos mal que, diversos governadores e prefeitos, tomaram atitudes e conseguiram estabelecer medidas sérias, seguindo as orientações da ciência. Nos principais ministérios se observa uma verdadeira confusão, falta de planejamento e retrocessos. Destaca-se os desastres na gestão da educação, da cultura, do meio ambiente, das políticas públicas de defesa aos povos indígenas, da assistência social, do combate à discriminação de gênero e etnia, entre outros temas fundamentais.
            Vivemos em uma democracia e devemos respeitar o resultado das urnas. Em nenhum momento comentei algo negativo sobre o eleitor que votou no atual presidente, pois tenho certeza que muitos queriam, verdadeiramente, uma mudança de rumos.
            Mas todos os limites foram extrapolados. Os ataques constantes do presidente e daqueles que compõem a cúpula do governo aos princípios constitucionais, às instituições como o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional, fogem ao bom senso e à razoabilidade.
            Não se trata mais de ideologia, de ser de esquerda ou de direita, mas o que está em jogo é a própria democracia. Necessário que todas as pessoas que defendem a democracia, independentemente de partido político ou de ideologia, estejam unidas em prol da liberdade. Há necessidade de uma grande frente democrática, a exemplo do que ocorreu no movimento “Diretas Já”, em 1984.
            Uma lástima o presidente não ter o bom senso de renunciar, pois seria menos desgastante do que passarmos novamente por um processo de impeachment. O fato é que há indícios do presidente ter participado de diversos crimes de responsabilidade: quebra de decoro; abuso de poder e atentar contra a Constituição. Estes fatos precisam ser investigados e julgados.
O presidente desde o início do governo demonstrou que não queria união do País, ao contrário buscou a provocação, a intriga e o autoritarismo.
            Chama a atenção, o fato do desgaste maior do governo ter sido provocado pelos seus próprios apoiadores, e não pela oposição.  Ocorreu (e ocorre) uma verdadeira autodissolução do governo. Diversas lideranças que compunham ou apoiavam o governo, foram percebendo que as propostas do presidente expostas em sua campanha eleitoral, na prática eram falsas. Daí o afastamento do  “super ministro” Sérgio Moro e dos ministros  Gustavo Bebiano,  Luiz Carlos Mandeta, Santos Cruz e do próprio  Nelson Teich.
           Além disso diversos governadores e parlamentares que antes apoiavam o governo, perceberam que predomina o descontrole, falta de gestão, a perseguição política, a influência obscura dos filhos do presidente. Estes eram da base, apoiaram a eleição do presidente Bolsonaro, mas perceberam o descalabro e o desatino na condução do governo. Agora a oferta de cargos em troca de apoio político, resta comprovada a propaganda enganosa da campanha eleitoral. 

             Há uma verdadeira autodissolução, um degelo do governo, que além disso vem perdendo cada vez mais o apoio popular e deixando uma péssima imagem do País, no exterior.

            Importante, neste momento, a união de todos que defendem a democracia, a Constituição, para evitar o retrocesso de uma intervenção militar, requerida pelas forças obscuras, com o apoio do Presidente da República.
            Resumidamente, pelos fatos acima expostos (e outros tantos), manifesto a minha opinião favorável que o presidente responda pelo processo de impeachment, nos moldes da nossa Constituição Federal, sendo preservada a democracia e a liberdade.

              * Rogério Araújo de Salazar 

                 Advogado e Primeiro Secretário da Executiva do PSB RS


 

Fonte: Comunicação PSB RS