Autorreforma: socialismo deve oferecer alternativa ao mundo

02/12/2019 (Atualizado em 02/12/2019 | 13:31)

A Conferência da Autorreforma do Partido Socialista Brasileiro teve, no sábado (30), um Diálogo Internacional com representantes do Partido Socialista Português, Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), o Partido Socialista do Uruguai e Partido Socialista do Chile. O seminário começou com homenagem a Salvador Allende, fundador do partido no Chile, que instalou uma gestão socialista no país e foi deposto por golpe militar em 1973.

Ricardo Coutinho: Nós somos parte do que está acontecendo na América Latina

Para o presidente da Fundação João Mangabeira, Ricardo Coutinho, a troca de experiências com outros partidos socialistas é essencial para o enfrentar o ultraliberalismo, e o PSB deve ser um partido que interaja com o resto do mundo – particularmente, com a América do Sul. “Nós somos parte do que está acontecendo no Chile, na Bolívia, no Uruguai e na Argentina. Temos que nos unir às forças progressistas desses países e de países europeus, principalmente com Espanha e Portugal”.

Alessandro Molon (D) mostrou-se preocupado com tendências autoritárias do presidente da república

O deputado federal Alessandro Molon(RJ) explicou para convidados internacionais que o Brasil vive hoje risco de autoritarismo. "Nós não temos dúvida de que a via preferida pelo atual presidente da república é a autoritária, apesar de ter chegado ao governo pelo voto, parece que a democracia não interessa mais àquele que se usou dela para chegar ao poder”. Molon apontou manifestações de desprezo do atual presidente brasileiro pela democracia. Chegou a pedir desculpas, em nome do povo brasileiro e do Congresso Nacional, ao povo chileno pelas manifestações do presidente brasileiro favoráveis à ditadura chilena de Augusto Pinochet, que ele considerou vergonhosas. "Por isso decidimos abrir o nosso Diálogo Internacional com uma homenagem ao inesquecível Salvador Allende”.

Para Molon, os partidos latino-americanos que participaram do Diálogo Internacional “representam muito bem o caminho que nós queremos defender e ao qual nós queremos nos associar”.

Representante do Partido Socialista do Chile, Felipe Barnachea Vásquez trouxe para a Conferência uma carta da vice-presidente do partido em seu país, a senadora Isabel Allende, filha de Salvador Allende. Isabel diz na carta que “o Chile passa por uma efervescência social e política, produto das demandas dos cidadãos para reduzir as desigualdades e eliminar os abusos. A discussão sobre o futuro do socialismo democrático precisa responder a várias perguntas para enfrentar as exigências das pessoas. O modelo neoliberal não responde às exigências das pessoas, principalmente, daquelas que têm mais carências econômicas e sociais”.

Chiazzaro: avaliar os equívocos para retomar os avanços

Para o deputado uruguaio Roberto Chiazzaro(PS-UY), os partidos de esquerda devem ter coragem e iniciativa própria para discutir seus equívocos no comando de governos. Chiazzaro referiu-se à experiência exitosa da coalizão Frente Ampla, que após governos bem avaliados, foi derrotada esta semana nas eleições presidenciais por menos de 30 mil votos de diferença. “Não podemos ter medo e não podemos nos esconder debaixo do tapete”, acrescentou o deputado, no primeiro painel do Diálogo Internacional. Chiazzaro fez um relato dos avanços obtidos nas duas gestões de Tabaré Vazquez e na de Pepe Mujica – este foi convidado para a conferência do PSB, mas teve problemas de última hora que o impediram de vir ao Brasil. “Tenho certeza de que venceremos as próximas eleições municipais de Montevidéu [capital uruguaia], mostrando a força da Frente Ampla”, afirmou.

Karina Delfino Mussa, presidente do Instituto Igualdad do PS chileno, disse que para eliminar as desigualdades é necessário a taxação dos mais ricos. Cobrar impostos sobre o patrimônio, o capital financeiro e sobre as ações das bolsas de valores.

Karina Mussa: “não deixem que façam com o Brasil o que fizeram com o Chile”

Já a senadora Mónica Xavier, do Partido Socialista do Uruguai, afirmou que o capitalismo chegou a limites inimagináveis que põem em jogo a sobrevivência da espécie, negando a ciência na crise climática e impondo um mundo de intolerância e terror. Para ela, o socialismo do século 21 deverá ser capaz de oferecer uma alternativa econômica, social e produtiva ao mundo pós-capitalista

Mónica Xavier: é preciso encontrar alternativas ao capitalismo

O deputado João Paulo Moreira Correia, do Partido Socialista Português, trouxe a experiência exitosa do socialismo que administra o país desde 2015. “O governo de direita achava que quanto mais baixos os salários, mais competitiva seria a economia portuguesa. Eles queriam a redução do déficit, e então aumentaram os impostos. Aumentaram sobre os mais pobres e a classe média, os trabalhadores. O que aconteceu foi que o desemprego aumentou, e aqueles que tinham emprego, perderam poder de compra. Os cortes nas pensões também ajudaram a quebrar o país".Entre medidas que serviram para recuperar o país, o socialista destacou o aumento do salário mínimo, que até fim do mandato do partido crescerá em 58%, e a geração de empregos públicos. Com a chegada de mais postos de trabalho, a economia voltou a ficar aquecida. Ele também rejeitou a ideia de que um governo socialista desestimula investimentos estrangeiros. De acordo com João Paulo Moreira Correia, “os investimentos nunca estiveram tão altos”.

João Paulo Moreira Correia, Olga Alonso e Hugo Pires

A deputada Olga Alonso, do Partido Socialista Obrero Espanhol (PSOE) afirmou que a Espanha precisa mudar suas leis de regime geral de eleições. “O bipartidarismo acabou. O diálogo não pode ser uma questão mercadológica de cargos no governo”. Ela também apresentou sua preocupação com o crescimento da extrema-direita e do fascismo nas camadas mais populares da Espanha.

Hugo Pires, deputado pelo Partido Português, disse que nenhum país no mundo está isento das crises da democracia. Ele afirmou que deposita “uma grande esperança no PSB, porque não há democracia sem partidos fortes. O PSB tem uma grande oportunidade, que é dar esperança ao povo brasileiro e à esquerda democrática do Brasil”.

Fonte: Comunicação/PSB nacional